domingo, 24 de fevereiro de 2013

Onde está você?

Onde está você com seus pensamentos nesse momento?
    Será que está presente na conversa com os amigos, ou está longe, viajando por lugares distantes?
    Onde está sua felicidade agora?
    Será que está junto de você, ou está longe, em objetos distantes, em pessoas que se foram, em bens materiais que você ainda não tem?
    Onde está seu sorriso agora?
    Está em seu rosto, estampando a sua alegria e confiança na vida?
    Ou será que foi levado por alguém que não está mais aqui?
    Será que seu sorriso ainda depende dos outros?
    Onde está a sua vontade de viver, agora?
    Está aí mesmo dentro de você chamando-o, a cada minuto, para as oportunidades, para viver os dias, ou está nas mãos de outras pessoas, e você está perdido sem saber para onde ir?
    Quem é o dono da sua vida, da sua vontade e da sua motivação?
    O que você precisa para ser feliz agora?
    Um emprego? Será que você não consegue procurar um pouco mais? Quem sabe mudar os rumos? Ou procurar em lugares onde você nunca havia procurado antes?
    Não coloque para si mesmo obstáculos demais!
    Será que a felicidade está apenas na conquista de um emprego?
    Talvez você precise de um amor.
    Então cultive novas amizades! Lembre-se de que a amizade é a fonte do amor verdadeiro!
    Procure se aproximar mais das pessoas, quem sabe!
    Antes de querer ser amado, ame!
    Onde está seu Deus agora?
    Será que você já o descobriu dentro de você?
    Será que você já o descobriu nas leis maravilhosas que regem o universo? Na proteção que recebemos, nas chances, nos encontros, nas bênçãos da vida?
    Será que você já o descobriu nas estrelas, nos mares, nos ventos, no perfume das flores?
    Onde está você agora?
    No curso mais seguro da vida, tendo sua embarcação sob controle? Ou está à deriva? Distraído pelas ilusões que encrespam o oceano todos os dias?
    Onde está você agora?
    Buscando um sentido maior para tudo, buscando o crescimento espiritual, ou está preocupado com coisas tão pequenas, incomodado com problemas tão simples?
    É tempo de saber onde realmente estamos.
    É tempo de repensar muitas coisas, de dar um novo sentido a tudo, de redescobrir as coisas mais simples e possíveis, e recriar a vida,colocando-a em seu curso seguro.
    Onde estiver seu coração, aí estará também o seu tesouro.
    Pense nisso!
    Por vezes nossos olhares se perdem no espaço à procura de algo que se encontra bem perto de nós.
    Outras vezes permitimos que nosso sorriso siga atrelado ao passo de alguém que se afasta de nós...
    Nossa alegria, tantas vezes, perde a força por causa de algo insignificante.
    Às vezes permitirmos que a nossa vontade de viver se enfraqueça, vencida pelas ilusões e fantasias...
    No entanto, para que não deixemos de viver o momento, intensamente, é preciso prestar atenção nas horas, no agora, no hoje, para que não deixemos escapar as mais excelentes oportunidades de construir nossa felicidade duradoura.
    Pensemos nisso!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

No Caminho, com Maiakóvski (Eduardo Alves da Costa)

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
Nos dias que correm
Olho ao redor
Vamos ao campo
E por temor eu me calo,
conheces melhor do que eu
a ninguém é dado
e o que vejo
e não os vemos ao nosso lado,
por temor aceito a condição
a velha história.
repousar a cabeça
e acabo por repetir
no plantio.
de falso democrata
Na primeira noite eles se aproximam
alheia ao terror.
são mentiras.
Mas ao tempo da colheita
e rotulo meus gestos
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A implosão da mentira - Affonso Romano de Sant'Anna


Fragmento 1 
Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.
Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.

Fragmento 2
 

Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.

Mentem. Mentem caricaturalmente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.

Mentem deslavadamente
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho. Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente. Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre. Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre. E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.

E assim cada qual
mente industrial?mente,
mente partidária?mente,
mente incivil?mente,
mente tropical?mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.

E de tanto mentir tão brava/mente
constroem um país
de mentira
—diária/mente.

Fragmento 3
 

Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.

Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.

Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.

Mentem como se Colombo partindo
do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.
Mentem desde Cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percurso.

Fragmento 4
Tanta mentira assim industriada
me faz partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em harpas
e oboés, como um solista vegetal
que absorve a vida indiferente.

Penso nos animais que nunca mentem.
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.

Penso nas flores
cuja verdade das cores escorre no mel
silvestremente.

Penso no sol que morre diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.

Fragmento 5
 

Página branca onde escrevo. Único espaço
de verdade que me resta. Onde transcrevo
o arroubo, a esperança, e onde tarde
ou cedo deposito meu espanto e medo.

Para tanta mentira só mesmo um poema
explosivo-conotativo
onde o advérbio e o adjetivo não mentem
ao substantivo
e a rima rebenta a frase
numa explosão da verdade.

E a mentira repulsiva
se não explode pra fora
pra dentro explode
implosiva.