domingo, 30 de dezembro de 2012

POEMA A BOCA FECHADA (José Saramago)


Não direi:

Que o silêncio me sufoca- e amordaça.

Calado estou, calado ficarei,

Pois que a língua que falo é doutra raça.

Palavras consumidas se acumulam,

Se represam, cisterna de águas mortas,

Ácidas mágoas em limos transformadas,

Vasa de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:

Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,

Palavras que não digam quanto sei

Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,

Nem só animais boiam, mortos, medos,

Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam

No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,

Crispadamente recolhido e mudo,

Que quem se cala quanto me calei

Não poderá morrer sem dizer tudo.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

LA SIMPLE LIBERTAD

La simple libertad, sustento de los sueños,
amor de un solo rostro visible a flor de luna.
La simple libertad, sin bridas y sin dueños,
libre como ninguna.

La simple libertad de la cumbre sin nombre
donde la noche cae enterrada en su lanza.
La simple libertad en donde siembra el hombre
la mágica esperanza.

La simple libertad, como la golondrina
que se empeña en volar hasta perder las alas.
La simple libertad bajo el cielo y la ruina,
cercada por las balas.

La simple libertad como la primavera
cantándole a la vida, desafiando a la muerte.
La simple libertad, ficción de una frontera
contra la mala suerte.

La simple libertad naciendo y repitiendo
ciudades, calles, casas, libros, canciones, luchas.
La simple libertad con quien vas conociendo
que tus armas son muchas.

La simple libertad, ¡oh, rostro del amor!,
en la piel de la luna me pareció mirarte.
La simple libertad, sentimiento y honor
que no pueden quitarte.

Cinco abrazos.
¡Venceremos!

Antonio Guerrero Rodríguez
Prisión Federal de Marianna
25 de diciembre de 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Caixa Quadrada (Naaman Filho)

cuidado com as crianças muitas horas na frente da internet...
na frente da televisão
na frente de qualquer caixa quadrada
ou dentro de qualquer caixa quadrada
há muito espaço do lado de fora das caixas
há muita luz natural
vamos aproveitar
que daqui a pouco vai ser só radiação solar no talo
deixem que elas plantem que elas gostem das plantas e das matas
e dos seres que nela habitam
meus filhos constróem casinhas de madeira e telhas
e nelas habitam vagalumes e besouros
seus amigos
eles não os matam
tem respeito por eles
e eu bobão vez por outra matava uma aranha
e eles viam e não entendiam
e eu mais esperto parei de matá-las
elas comem os mosquitos
as pulgas da chica ficam presas em suas teias
e agora espero os meus três amigos
(que em breve retornam)
para que cada um plante mais uma mudinha
e para que eu as cuide
sempre aguardando
seus sorrisos ao vivo.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Fácil e Difícil ( Carlos Drummond de Andrade)

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que se expresse sua opinião...
Difícil é expressar por gestos e atitudes, o que realmente queremos dizer.


Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias...
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus próprios erros.

Fácil é fazer companhia a alguém, dizer o que ela deseja ouvir...
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer a verdade quando for preciso.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre a
mesma...
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado...
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece.
Fácil é viver sem ter que se preocupar com o amanhã...
Difícil é questionar e tentar melhorar suas atitudes impulsivas e as vezes impetuosas, a cada dia que passa.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar...
Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar...
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.

Fácil é ditar regras e,
Difícil é segui-las...

RECEITA DE ANO NOVO ( Carlos Drummond de Andrade)


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Ao Amor Antigo (Carlos Drummond de Andrade)


O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Soneto do amigo (Vinicius de Moraes)


Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Amizade................


A amizade consegue ser tão complexa...
Deixa uns desanimados, outros bem felizes...
É a alimentação dos fracos
É o reino dos fortes

Faz-nos cometer erros
Os fracos deixam se ir abaixo
Os fortes erguem sempre a cabeça
os assim assim assumem-os

Sem pensar conquistamos
O mundo geral
e construimos o nosso pequeno lugar
deixando brilhar cada estrelinha

Estrelinhas...
Doces, sensiveis, frias, ternurentas...
Mas sempre presentes em qualquer parte
Os donos da Amizade...

domingo, 9 de dezembro de 2012

POEMA ÀS CORES (Vieira Calado)


Atenta nesta paleta de cores
estes sinais de opulência da luz breve
símbolos que acordam a manhã dos nossos olhos
para a flor do sol
que insistem na múltipla transfiguração
das imagens que dão forma às nossas vidas;

repara no preto e no branco
como se a sinfonia dos acasos
não fosse mais que a simetria dos ocasos
ou no azul que desfalece
os matizes infindáveis do cinzento
que vai nos olhos, no sangue de cada um
porque é o sol magenta dos alvores matinais
que trai os sonhos da madrugada
a reflexão das cores e do entendimento.
Vê como o verde decai
em tonalidades martirizadas pelo ocre e o amarelo
sustentando a linha melódica dos barros;
Observa a cor do céu na fria latitude
dos gelos glaciares,
na transparência da água dos oceanos
resolvida em anémonas e corais de luz.
Atenta no rosa dos frutos da primavera
entre as folhas a captar o sol
para a maturidade corrompida pelo granizo
onde a imagem da noite baila
no esmorecimento das cores e a sua ausência
o negro
.....o presente persistindo .....curvado à sapiência do eterno.
Atenta nas cores
e ouve o timbre os tons da música
capazes de trazer violetas e rosas
ao patamar da euforia
o clímax de licores de carmim e rosa
em púrpura desfeita virgindade
na face da menina
já mulher.
Lê a tua sina em esmeraldas
e em rubis cristalizados
proscritos até ao fim do tempo
ou o ébano das noites frias envenenando
o brilho diáfano de ametistas e turquesas
que resolvem a cinza em azul e oiro
e vê como tudo se encaminha para um grande abraço
num arco-íris que vincula a terra à terra
o sangue ao rubro sangue das entranhas dum vulcão
que derrama todas as cores,
os símbolos e os signos
o magma que há de florescer nas sensações
a percepção subjectiva
do real.

Poema das Cores (Alexandre Oliveira)


Quando as coresse misturam o negro vira branco,
e o branco vira preto sem tanta
tinta misturar.

O verde fica vermelho
dependendo unicamente
de cada modo de olhar.

Mas o o olhar 
for alegre o mesmo triste
aonde tanta cor eu terei que buscar...

Portanto nem sequer
mesmo me preocupo se nada mais tenho
com que me preocupar.
Se enquanto as cores tornem dentre elas
a se misturar.

Pois que seja da cor preta
ou de cor branca, a cada cor
eu pretendo logo amar.

TRIBUTO A OSCAR (Catabira Mocambo)


Das Curvas
O passar das bandeiras erguidas
A leveza concreta do ser
Com meneios de rio, de rocha, de gente.

Das curvas
O gênio expresso suspenso no ar
Das possibilidades concretas inacabadas

De um sonho erguido na aridez.
Das curvas
A suave inquietude dos morros e baixos
O gesto insinuante da vida
A monumental denúncia do equilíbrio.

Das curvas alegres
Os caminhos de um povo sofrido
Povo obreiro que ergueu as curvas
Ascendentes como solução.

sábado, 8 de dezembro de 2012

O Sonho (Clarice Lispector)


Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.

Liturgia de águilas (fragmento) - Mariana Bernárdez


Muero sin morir en ti
y de tanto morir
nunca llegar a la muerte en sí

Tener sed y no encontrar el agua que sacie la lengua

Sentir temblor y no palabra que apacigüe
Buscar sin entender que el cuerpo no se rompe
que la boca es insuficiente
para limitar manos y pies que no andan
aunque mucho polvo hacia el templo hayan dejado

Sopla el viento

primera pulsación de la presencia
aire que alienta las palabras de la garganta
y del pensamiento hasta los labios

Las palabras se pronuncian entrañando gesto

brazos que tocan a través de las manos
que expresan su conmoción para llegar

pero nada tocan sino el aire

y a veces otras manos
que no son abrazo
que no son sino sólo manos
y las tuyas van perdiendo su propio movimiento
bailan en la fluencia del tacto que nada dice
por qué si hay dentro
las manos
los dedos
las uñas
olvidan el soplo del viento.

Habitarse

dentro
para no habitarse

Despeñarse

caer más adentro
porque no se puede no caer
cuando no se puede no subir

porque llevo muchos días siguiendo tu sombra

entre las hojas de los árboles
escuchando el ruido de tu aliento
desbrozar agua en canastilla
y sigo tus huellas por ese polvo que pisas
y me basta para recordar tu mirada
canto de amor de otros tiempos…

Cómo me calaba el silencio

el frío de la montaña
el aire húmedo y espeso
cuánta agua anegándose
por no diluir las frases del rostro

Lee dentro de mí…


Tras tus huellas he dejado las mías

escarpadas
y riscos en hielo derritiéndose
cuerpo pequeño para contener el latido

¿quién perseguía a quién

quién dejaba a quién?

cómo olvidar ese día

estabas a unos pasos
y yo de frente
detrás el despeñadero
la lanza en la diestra

todo era silencio


un fragmento


la lanza rebotó contra las piedras


sabor a musgo en mi boca


la lanza


ninguno había matado


comencé a escuchar tu voz en mi descenso


Palabreo


Siento el peso de la redondez

cuando digo desesperación
y sé que no debí tirar la lanza
cuando deletreo d e s e s p e r a c i ó n
y sé que no debí dejar el rastro.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

OSCAR NIEMEYER (Antonio Miranda)


Oscar Niemeyer
poeta-escultor.
 
Arquiteto do Rei.

Linhas no espaço sideral,
curvas no infinito
das constelações virtuais.

Criando avarandados coloniais
rampas cósmicas.

Ateu e comunista.

Materialista das catedrais
humanas,
das capelas espirituais.
Como mãos votivas
numa prece eternizada
no concreto armado
da Catedral ecumênica.

Todas as mãos candangas
paranaenses mineiras
pemambucanas
todas as mãos nortistas
paulistas
de todos os quadrantes
e sextantes
sustentam o universo
nacional.

No alto passam as
nuvens cintilantes
e os aviões da Real e da Panair
uma conspiração de anjos
burocratas diplomatas
voam políticos, empreiteiros
e trovejam e relampagueiam
tempestades
e fogos de artifício.

Sensual ou curvilíneo
em formas simbolistas:
mãos redes seios.
Devaneios.

Talvez abstrações
com intenções figurativas.

Ou seriam estruturas-esculturas?
Barrocas, modernistas?

Nas simetrias liberadas
e nas geometrias depuradas:
teatralidade.

Volumes espaços alturas
verticalidade
ou extremidades em vértice
a eludir o estático
e o majestático
— contra as regras
e as limitações.

Niemeyer é tão ou mais monumental
ainda que sóbrio
mais leve quando concreto
e funcional
mais denso quanto poético.

Surpreendente.

Sem concessões à trivialidade
porque genial.

Todas a artes irmanadas
no mármore, nos arcos
ancestrais
abóbadas sonoras
colunas dançarinas,
vitrais. 

Poema da Curva (Oscar Niemeyer)


"Não é o ângulo reto que me atrai.
Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem.
O que me atrai é a linha curva livre e sensual.
A curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso de seus rios,
nas ondas das mornas nuvens do céu, na curva da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo.
O universo curvo de Einstein."

Señales de alarma (Luis Raúl Calvo)

Hay una historia personal en el fondo del vacío

los rasgos de la infancia son la ausencia


de toda presencia.


Hay una suma de datos registrados como meros


prontuarios, una acumulación de hechos


que trascienden la humedad de las formas


el peso del color, o la longitud del párpado.


En ese territorio aborigen desnudamos la huella


del recuerdo y la convertimos en señal de


alarma


para futuras deserciones.


Pero ¿Quién abandona a quién cuando dos


cuerpos


se separan y se instaura el olvido?


¿Quién derriba la capa de oxígeno y transforma


la identidad de un rostro en desoladas


convenciones?


Acaso presentimos que un beso es más que


un beso


cuando el hielo nos tapa en las luctuosas


noches


de misa y arrastramos los restos de memoria


el imaginario creado para aceptar


que el nombre puesto es una tácita derrota


que debemos velar, como se vela a un muerto


en los ascensores de luto.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Poema de aprendiz de amigo (Fernando Pessoa)


Quero ser o teu amigo
Nem demais e nem de menos
Nem tão longe,
nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder
Mas amar-te, sem medida
E ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.

Sem tirar-te a liberdade

Sem jamais te sufocar
Sem forçar tua vontade
Sem falar quando for hora de calar,
E sem calar,
quando for hora de falar.

Nem ausente,

nem presente por demais
Simplesmente,
calmamente,
SER-TE PAZ...

É bonito ser amigo.

Mas confesso,
é tão difícil aprender!

É por isso que te suplico paciência

Vou encher este rosto de lembranças.
Dá-me tempo de acertar nossas distâncias!

Aceite-me como sou (Don Martim)

Aceite-me como eu sou.
Não venho com garantia...
nem tenho a pretensão,

de ser alguém perfeito.
Toda a perfeição não posso ter.
Eu sou como você:
sou da espécie humana,
sou capaz de errar.
O erro não é falha de caráter
e errar faz parte da Natureza Humana.
Eu vivo.
Eu sorrio.
Eu também aprendo!
Meu conhecimento é incompleto.
Estou na busca o tempo todo,
nas horas acordadas e nas horas de sono.
Eu tenho um longo caminho a ser percorrido,
assim como você também tem.
Aprendemos nossas lições pelo caminho.
Atingiremos a Sabedoria.
Assim, por favor,
aceite-me como sou!
Porque eu sou só eu.
Apenas eu.
Não há ninguém igualzinho a mim no mundo.
Esta é a única garantia que dou.
É assim que eu me sinto.
Eu tenho um coração.
Abra-me e veja-o!
Por favor , cuide bem dele.
Ele é tudo que eu sou.
Apenas eu.